“Sou mansa e calma, mas forte e poderosa. Gosto de me espraiar na areia como quem se espreguiça toda manhã. Os juncos sempre me recebem se curvando e me reverenciando. Nunca paro, nem de dia, nem de noite. Balanço ora pra cá, ora pra lá. Indo e vindo. Muita gente me olha, outros tantos me admiram, poucos me amam. São esses que me fazem sempre bonita.
Sou de uma cor especial. Alguém tocou o céu com os dedos e me manchou de azul.
Se o
vento vem do Sul, encrespo. Se for Nordeste, me atiro. Se virar tempestade, me revolto. Nessa hora não quero ninguém por perto, pois posso derrubar, machucar, engolir. Nasci antes de ti, e meus ossos se formaram primeiro que os teus. Tenho mais tempo de vida e de história. Sou grande, muito grande, tanto que trago vários nomes. Todos lindos, de acordo com a paisagem que vejo.
Mirim, região de várzeas por meio das quais recebo muitos riachos. Imaruí, terra de colinas que faz o caminhante subir e descer mansamente sem me perder de vista. Santo Antônio dos Anjos da Barra da Laguna, cidade do canal estreito, onde me apertam e me espremem, sendo obrigada a me abraçar com o mar, essa montanha de salmoura.
Parte da crônica “O Canto das Excelências” do livro “Lembrança do presente”.